sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

CRÔNICAS SINCRÔNICAS - NATAL COM LIVROS



Fui criança há muito tempo. Continuo sendo ainda hoje. Uma criança na hora certa, no lugar certo, é claro.
E para falar a verdade, a melhor hora para ser criança era sempre o Natal. Falando assim pode parecer puro interesse nos presentes! Não era! Sempre me encantou a casa cheia de gente, os abraços, os beijos e o carinho distribuído calorosa e fartamente entre todos. A ternura que tomava conta da casa e das pessoas, nesta época, era sentida de modo muito intenso. Talvez ainda hoje. Guardada, num receptáculo de florescência, que se abre totalmente, como flor de estação. Perfumar a vida do outro é tarefa de muita responsabilidade! E talvez, por isso, o jardim da ternura exija um ano inteiro de preparação!
E por falar em flor, adoro a flor do Natal!   De todos os nomes – bico-de- papagaio, rabo-de-arara, cardeal – prefiro a designação estrela-do-natal. Seu vermelho intenso sempre acende em mim o fogo da lembrança, e confirma, para sempre, a sua vocação de estrela de Belém. Assinalando o lugar, a flor do Natal afirma que Belém é aqui, é agora, é todo e qualquer lar onde ela esteja.  Portanto, cada casa, nesta época, deveria viver o nascimento.
E por falar em nascimento, o meu Natal reúne também às pontas da linha do tempo: crianças e velhinhos! Velhinho com cara e jeito de avô, que conta histórias e nos leva para o mundo da fantasia. Por isso, no meu cinema da memória, ressurge sempre a figura do seu Atílio, meu querido avô. O lustro do seu cabelo, o seu bigodinho, a sua altura de pinheiro de Natal! E melhor, seu grande colo, que mais que abraçar, erguia parede, concavidade, caverna de abrigo e proteção! Colo de avô era Natal multiplicado, tão necessário, que virava disputa entre irmãos e primos. E se alastrava para a vida inteira.
E na revoada dos velhos Natais, corri até aqui de bicicleta, para exibir o presente mais marcante. Fugi até aqui para mostrar o estalo do tapa e os sulcos das lágrimas, daquele Natal triste: tarde da noite, o carro que nos levaria à casa da avó, enguiçou e  nos deixou reféns da tristeza. Tios esperando, primos esperançosos, corações expectantes. Eu, que sempre necessitava dos porquês, pedia tanta explicação, que a única maneira de me fazer calar era usando o grito, a dor e a autoridade. Cresci dividido entre as alegrias daquela bicicleta e a tristeza daquele tapa na cara, procurando a luz e a fixação, como a trepadeira que se agarra aos muros e quer invadir os futuros Natais, onde possa haver ainda uma estrela-guia.
E assim, para adorno natalino, convoquei também o vermelho e o dourado, as luzes que piscam, as árvores e seus pingentes, para enfeitarem mais uma preciosa lembrança: o mutirão da fraternidade, quando juntos, acreditávamos trazer para dentro da casa a árvore-da-vida e a arca do tesouro, repartidos em mil penduricalhos. Ajudar a mãe a armar a árvore de Natal era acreditar na repartição dos raios do sol, no ato de construir juntos, com mãos irmãs, o centro da praça, em torno da qual dançaríamos como escoteiros, como tribo, como família, como filhos que estavam ligados pelo mesmo cordão umbilical.
Se o Natal não era feito para durar, alguns presentes eram. Porque eis que descobri uma maneira peculiar de viver o Natal. E você pode acreditar, se assim quiser, que é benção de Papai Noel, Menino-Deus, Pai Natal, Santa Claus, São Nicolau, Reis Magos... O que importa é que a legião de presenteadores cresce sempre! E olha, esse é um presente desejado, provado, experimentado, repetido tanto quanto se queira. É assim: pedi, com muita força, que eu pudesse entrar nos livros e viver, no lugar do personagem, o momento mais importante daquelas histórias. Um dia, o presente chegou, e por isso estive lutando com o Capitão Gancho, morando na goela de uma baleia, participando do depoimento ao Rei e à Rainha de Copas, derrotando a Bruxa do Oeste, sendo picado pela serpente para poder voltar ao asteróide B612. Só tendo muitos nomes e sendo Peter Pan, Pinóquio, Alice, Dorothy Ventania e Pequeno Príncipe é que eu seria capaz de nascer muitas vezes e espalhar o Natal pelos outros dias da minha vida. Não parei mais, desde então.
Mas ainda espero entrar na história dos homens, no livro da vida, e ver o fim da disputa entre Israel e Palestina; assistir às mulheres orientais ganharem voz e vez, participar da derrubada das fronteiras entre os países; ver com os meus próprios olhos que todas as crianças estão na Escola, que todos têm emprego e tratamento médico adequado, quando necessário. Que não há mais fome, a não ser a fome de livros, histórias e fantasia.
Por isso, para salvar o que há de humano nas pessoas, hoje dou livros de presentes no Natal.
E continuo acreditando que Natal é só mais uma maneira de servir, em lauta ceia, a palavra utopia! Feliz Natal!


        
(by Celso Sisto – 23/12/2011

Adorei a crônica! Adoro o escritor!!! Li alguns livros e vou postar em breve como sugestão de leitura !
Leia para seus filhos, amigos, parentes e senão tiver ninguém por perto leia para você em voz alta!!!
Bjos

SP volta atrás e amplia português e matemática

O governo do Estado de São Paulo voltou atrás da decisão de diminuir a carga horária das aulas de matemática e língua portuguesa no ensino médio do período noturno. A mudança foi uma solicitação do governador Geraldo Alckmin (PSDB), segundo a Secretaria Estadual de Educação. A nova grade curricular para 2012, agora alterada, havia sido divulgada no Diário Oficial do Estado no último sábado.
A redução na carga horária de matemática e português havia sido amplamente criticada quando as primeiras informações sobre as possíveis mudanças na grade curricular surgiram, em setembro deste ano. Alckmin, na época, reagiu contra a mudança e declarou ser favorável exatamente ao contrário. "Se pudéssemos, deveríamos aumentar (as aulas de português e matemática)", disse ele.
Apesar da declaração do governador, a Secretaria de Educação alterou a grade com a publicação da resolução, mas teve de voltar atrás. "A alteração feita com base na orientação do governador Geraldo Alckmin mantém o espírito da reformulação da grade curricular que foi elaborada pela Secretaria da Educação", defendeu, em nota, o secretário adjunto, João Cardoso Palma Filho.
A nova grade trazia um reforço do ensino das disciplinas de sociologia, filosofia e artes. Além da diminuição de português e matemática no período noturno, a resolução da Secretaria previa também uma redução na carga horária das disciplinas de geografia e história para os alunos do período diurno. Essa alteração, por sua vez, será mantida para esse período. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A MAIOR FLOR DO MUNDO: NO MUNDO DE JOSÉ SARAMAGO

Caros alunos,
José Saramago  foi um escritor português que possui uma obra literária espetacular. Ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1998. le escreveu um único livro para crianças, como já citei nesse blog à vocês,  que foi adaptado em um curta-metragem,  de Juan Pablo Etcheverry , vencedor de vários prêmios em sua categoria. Também encontramos o filme "Ensaio sobre a cegueira", diretor Fernando Meirelles, que é uma adaptação de seu livro com o mesmo título. Bom é só um bate-papo para aguçar sua curiosidade.
Não se esqueça, realize as atividades , conforme estão postadas. Até mais...

ATIVIDADE 1

Leia o livro " A maior flor do Mundo" e observe as ilustrações. Clique sobre a figura para acessar o livro.Boa Leitura!




Gostou do livro?! Simm.... É uma leitura deliciosa, assim como a que leio as vocês todos os dias.

ATIVIDADE 2

Essa é a biografia de José Saramago. Leia e depois clique na imagem abaixo para acessar a Autobiografia, analisando  as diferenças que observaram.

Filho e neto de camponeses, José Saramago nasceu na aldeia de Azinhaga, província do Ribatejo, no dia 16 de Novembro de 1922, se bem que o registro oficial mencione como data de nascimento o dia 18. Os seus pais emigraram para Lisboa quando ele não havia ainda completado dois anos. A maior parte da sua vida decorreu, portanto, na capital, embora até aos primeiros anos da idade adulta fossem numerosas, e por vezes prolongadas, as suas estadas na aldeia natal.
Fez estudos secundários (liceais e técnicos) que, por dificuldades econômicas, não pôde prosseguir. O seu primeiro emprego foi como serralheiro mecânico, tendo exercido depois diversas profissões: desenhista, funcionário da saúde e da previdência social, tradutor, editor, jornalista. Publicou o seu primeiro livro, um romance,  Terra do Pecado, em 1947, tendo estado depois largo tempo sem publicar (até 1966). Trabalhou durante doze anos numa editora, onde exerceu funções de direção literária e de produção. Colaborou como crítico literário na revista  Seara Nova. Em 1972 e 1973 fez parte da redação do jornal Diário de Lisboa, onde foi comentador político, tendo também coordenado, durante cerca de um ano, o suplemento cultural daquele vespertino.
Pertenceu à primeira Direção da Associação Portuguesa de Escritores e foi de 1985 a 1994, presidente da Assembléia Geral da Sociedade Portuguesa de Autores. Entre Abril e Novembro de 1975 foi diretor-adjunto do jornal  Diário de Notícias. A partir de 1976 passou a viver exclusivamente do seu trabalho literário, primeiro como tradutor, depois como autor. Casou com Pilar del Río em 1988 e em Fevereiro de 1993 decidiu repartir o seu tempo entre a sua residência habitual em Lisboa e a ilha de Lanzarote, no arquipélago das Canárias (Espanha). Em 1998 foi-lhe atribuído o Prêmio Nobel de Literatura.
José Saramago faleceu a 18 de Junho de 2010.






Você já conhece um pouco sobre a vida e obra de Saramago.

ATIVIDADE 3

Assista novamente o curta " A maior flor do Mundo".




 Você leu o livro e sua biografia e assistiu o filme. Possui vários elementos necessários para está avaliação sobre o Tema: "A Maior flor do Mundo: no mundo de José Saramago".Clique na imagem abaixo e abrirá sua avaliação, não esqueça de identificar-se.
Boa Avaliação!





sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

PREVENÇÃO TAMBÉM SE ENSINA

A Secretária da Educacação do Estado de São Paulo preocupada com o avanço das DST's/AIDS, Drogas e Gravidez na adolescência nas escolas proponhe um programa que dialoga com os alunos, afim de ensinar e prevenir esses problemas.

No site da FDE você poderá se aprofundar no Programa para trabalhar com seus alunos. Acesse o link http://www.fde.sp.gov.br/PagesPublic/InternaProgProj.aspx?contextmenu=prevensina e o Manual
http://file.fde.sp.gov.br/portalfde/Arquivo/B_Prevensao_07.02.11.pdf onde contem todas as informações necessárias para compreender o objetivo do Programa.

Esse vídeo ilustra uma atividade que seus alunos poderão realizar utilizando os recursos digitais com o Porgrama Prevenção também se Ensina.




Agora, responda este questionário com base em todas as informações dadas.
https://docs.google.com/spreadsheet/viewform?formkey=dE9FNzNuSkt6WmxFbDV2VDUySjVlNXc6MQ

Boa sorte!

GUIA DE ATIVIDADES PARA AS FÉRIAS- EDUCAR PARA CRESCER

O site Educar para crescer trás excelentes dicas para qualquer pessoa de qualquer idade.
Dica da semana é o Guia de Atividades para as Férias, uma oportunidade de relaxar e brincar com quem amamos - filhos, sobrinhos e amiguinhos.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

José Saramago: A Maior Flor do Mundo

O único livro escrito por José Saramago para crianças. É uma linda história!!! Saramago era bem modesto.



A voz do narrador é do próprio Saramago, o que enriquece esse belo filme. 
Dica: Leia o livro e depois, assista com os alunos. Ah! Saramago no final do livro, desafia as crianças. Desafie seus alunos.
No site http://www.josesaramago.org/ existe a resposta do desafio. Explore o site e o conhecimento de seus alunos!

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Entrevista com Vitor Haase: discalculia

A revista Carta Fundamental é muito interessante, pois aborda vários assuntos ligados à Educação, principalmente sobre políticas públicas.

Entrevista por TORY OLIVEIRA que aborda um assunto que já comentei : DISCALCULIA.


Eles não sabem calcular


O pesquisador da UFMG Vitor Haase organiza primeira grande pesquisa sobre discalculia no Brasil. Foto: Washington Alves
Diante de um estádio de futebol, a maioria de nós consegue distinguir se há mais torcedores do Corinthians ou do Palmeiras nas arquibancadas. Para um discalcúlico, a tarefa é quase impossível. O termo, pouco usual, define pessoas que têm discalculia, transtorno crônico de aprendizagem da Matemática que compromete a capacidade de efetuar cálculos básicos, estimar quantidades e entender -sequências -numéricas. Apesar de atingir 6% da população, o distúrbio ainda é pouco conhecido, principalmente se comparado à dislexia. Coordenador do Laboratório de Neuropsicologia da Universidade Federal de Minas Gerais, Vitor Haase é um dos organizadores da primeira grande pesquisa sobre a discalculia no Brasil. Realizado com 1,8 mil estudantes em Belo Horizonte, o estudo procura estimar a incidência da discalculia na população brasileira e descobrir mecanismos neurológicos e genéticos que expliquem o transtorno. Nesta entrevista, o neurologista e doutor em psicologia médica explica mais sobre a discalculia e sobre outros transtornos de -aprendizagem da Matemática.
Carta Fundamental: Como surgiu o interesse em estudar a discalculia?
Vitor Haase: Os motivos são vários. É um assunto pouco estudado, mas com implicações sociais importantes. Estudos mostram que crianças com dificuldade crônica de aprendizagem em Matemática sofrem consequências do ponto de vista psicossocial, como, por exemplo, aumento de transtornos de comportamento, da ansiedade e da depressão. Além disso, do ponto de vista da pesquisa, apareceram modelos de processamento de informação muito interessantes, que permitem identificar mecanismos neuropsicológicos específicos dessa dificuldade.
CF: O que é discalculia? 
VH: Também chamada de transtorno de aprendizagem da Matemática, é uma condição de dificuldade de aprendizagem crônica, persistente. Essa dificuldade não está relacionada com inteligência baixa, com experiência educacional inadequada, dificuldades emocionais primárias ou carência sociocultural. Ela é uma dificuldade intrínseca, não é relacionada com nenhum fator externo.
CF: É comum a discalculia ser confundida com dificuldade em Matemática? 
VH: A discalculia precisa ser diferenciada da dificuldade de aprendizagem, que engloba um conjunto maior de indivíduos com rendimentos mais baixo, mas que não têm essas características da gravidade e da persistência no tempo. A discalculia é uma dificuldade bastante intensa.

CF: Se ela é uma dificuldade intrínseca, é causada por um distúrbio neurológico?
VH: É um problema de origem genética e uma dificuldade inerente ao indivíduo. As causas estão relacionadas com um mecanismo genético multifatorial, interagindo com fatores ambientais que desencadeiam o quadro. A discalculia é um quadro grave, que causa dificuldades nos aspectos mais básicos, como contar, conhecer tabuada, resolver -problemas aritméticos simples, noção de quantidade da grandeza das coisas. É diferente de problemas como a ansiedade matemática.
CF: O que é isso?
VH: É uma forma de fobia de testes matemáticos. É muito mais frequente, chega a atingir 20% da população. A discalculia tem uma frequência de 5% a 6%. Interessante é que a ansiedade matemática tem uma sobreposição relativamente pequena com a discalculia. O número de indivíduos com discalculia que têm ansiedade matemática não é muito grande. O contrário também: a maioria dos indivíduos com ansiedade matemática não possui um déficit grave como na discalculia. O que acontece é que as pessoas têm medo, já que a matemática é uma área complexa.

CF: Com quantos anos a discalculia costuma se manifestar?

VH: Na idade da pré-escola. A professora geralmente já percebe que a criança tem dificuldade de contar e identificar os números.

CF: A discalculia acontece por causa de um distúrbio genético que afeta uma parte do cérebro responsável pela Matemática?

VH: Isso é uma das coisas interessantes na questão da aritmética: não existe um mecanismo só. Cada região cerebral é responsável por algum tipo de função importante para a Matemática. Os fatores que interferem na aprendizagem da Matemática são três. Um é o senso numérico, acuidade que um indivíduo tem de estimar o tamanho dos conjuntos sem precisar contar.  Por exemplo, policiais olham para um estádio cheio de gente e dizem: são 60 mil pessoas. É uma habilidade de fazer estimativas com base no “olhômetro”, sem precisar contar. O indivíduo com discalculia possui dificuldade nesse senso numérico. Outras habilidades importantes são as de linguagem, algo comprometido na dislexia. Muitas crianças com dislexia também têm dificuldades com a Matemática, justamente por não conseguir lidar bem com estruturas sonoras das palavras. Então, são três os fatores cognitivos mais importantes para a Matemática: o senso numérico, as habilidades fonológicas e o terceiro fator, que é a memória de trabalho. A memória de trabalho é extremamente importante para o cálculo mental. Quando realizamos uma operação, precisamos manter os produtos e os resultados intermediários na mente para fazer essas operações. Apenas 30% das crianças com discalculia têm uma discalculia pura. Dois terços delas têm discalculia associada – com a dislexia, com dificuldades na leitura, com TDH, ou com dificuldades de concentração. Os meninos com discalculia pura são aqueles com a forma mais grave da doença. São justamente essas crianças que têm dificuldade com a noção de grandeza e de quantidade. É uma coisa muito mais incapacitante, porque na vida prática é preciso estimar o tempo que você vai levar para tomar banho, para ir de um lugar a outro, a quantidade de comida usada para fazer uma refeição…

CF: Quando a discalculia começou a ser estudada? 

VH: A definição é da década de 1970 e os estudos começaram em 1980, mas somente se intensificaram a partir de 1990, quando surgiram modelos de processamento de informação que permitiram aos pesquisadores identificar esses componentes. Hoje é uma área que está crescendo muito.
CF: O senhor está coordenando o primeiro levantamento no Brasil sobre a prevalência da discalculia no País. Quais são os principais objetivos da pesquisa?
VH: Estamos coletando uma amostra representativa da discalculia na população de Belo Horizonte, em 16 escolas. O processo de avaliação é feito em duas etapas. Na primeira, é feita uma triagem, com teste de inteligência e teste de desempenho em aritmética. Já triamos pelo menos 1,8 mil crianças. Dessas, selecionamos aquelas com desempenho abaixo de 25%. Então, convidamos as crianças daquele grupo a participar da segunda fase e também convidamos outro grupo de crianças com desempenho acima do perfil de 25%, para servir de controle. Daí é feita uma entrevista e uma avaliação individual de duas ou três sessões. Depois, pegamos o material biológico – recolhemos saliva – e fazemos extração de DNA para as análises genéticas. Por meio dessa avaliação, procuramos ver os mecanismos neuropsicológicos, quais são os mecanismos cognitivos implicados na discalculia e também fazemos a genotipagem. A genotipagem é feita em dois locus. Um dos locus é o da Síndrome de Turner e o outro é o da Síndrome Velocardifacial. As duas síndromes são as mais comuns que causam dificuldade de aprendizagem da Matemática sindrômica. Também a gente faz a genotipagem de uma enzima importante para o metabolismo da dopamina, que está relacionada com várias funções, principalmente com a memória de trabalho. Agora terminamos a genotipagem de 268 crianças e começamos a fazer essas análises. O objetivo é fazer um cruzamento entre os polimorfismos genéticos e o perfil cognitivo dessas crianças.
CF: Quando o professor desconfia que o aluno possui discalculia, como ele deve proceder?
VH: Se o professor acha que a criança tem uma dificuldade que é mais grave, deve encaminhá-la para uma avaliação neuropsicológica. Uma coisa importante é – quando há uma criança com desempenho considerado insatisfatório – constatar se ela tem uma dificuldade de aprendizagem mesmo ou se o problema é de “ensinagem”. Ou seja, se o currículo- ou mesmo a atitude do professor não está sendo a mais favorável, no sentido de promover a aprendizagem daquela criança.

CF: Existe tratamento para a discalculia?

VH: A questão do tratamento é o das intervenções psicopedagógicas. Existe um componente motivacional importante que a gente tem de trabalhar com a família e com a professora. Eles geralmente têm atitudes negativas com a criança. Acham que ela é lerda, burra, malcomportada e tem pouca expectativa. Com a criança também é preciso trabalhar o aspecto motivacional, porque a dificuldade crônica de aprendizagem é extremamente desmotivante. Uma das estratégias usadas é a aprendizagem sem erro, que consiste em programar o currículo de maneira tal que a criança consiga dar conta de resolver o problema com pequeno esforço. Nesse aspecto motivacional, a gente trabalha também com técnicas de autoinstrução – ensinar o menino a ter uma atitude mais reflexiva, de monitorar seu comportamento ao resolver problemas, de checar, de ver se a solução atingida foi a correta ou não.

CF: O problema da discalculia é menos comum do que a dislexia ou ele só é menos conhecido? 

VH: A frequência é mais ou menos a mesma da dislexia, em torno de 5% a 6% da população. A questão é que as pessoas, socialmente, acham que a Matemática é difícil e que é natural ter dificuldade.

CF: Ao contrário do que acontece com a leitura e a escrita…

VH: Outro dia eu estava conversando com uma professora e ela falou o seguinte: às vezes a criança está tendo dificuldade nas duas coisas. Aí a professora começa a ficar ansiosa, porque a criança não está acompanhando o currículo, e resolve trabalhar com uma coisa só. Geralmente, ela acaba privilegiando a leitura, porque as famílias se preocupam mais com que as crianças terminem o primeiro ano sabendo ler do que sabendo fazer contas…

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Alunos dão aula contra enchente

Além de recolher o lixo jogado nas ruas, eles foram às casas vizinhas para falar da limpeza

24 de novembro de 2011 | 10h 11
Usando luvas plásticas e carregando cartazes informativos sobre reciclagem, cerca de cem alunos dos 3.º e 4.º anos da Escola Estadual Guerino Raso, no Belenzinho, na zona leste de São Paulo, aproveitaram a tarde de ontem para recolher o lixo jogado nas ruas Serra da Bocaina e Siqueira Bueno, que ficam no entorno da escola.

Os estudantes também plantaram mudas de azaleia nas calçadas e tocaram as campainhas dos vizinhos para dizer “que não é legal espalhar lixo nas calçadas”, como explicou o aluno do 4.º ano B, Thiago Carvalho da Conceição, de 11 anos. “Não estamos brincando. Isso é muito sério”, disse o menino enquanto carregava um saco de cem litros lotado de papel recolhido das calçadas.

A ação, chamada Morador Presente, foi uma iniciativa da presidente do Conselho de Segurança (Conseg) Brás, Mooca e Belenzinho, Wanda Herrero. Cansada de ver as ruas do entorno do Largo Ubirajara alagarem sempre que chove, ela até que pensou em tocar sozinha as campainhas para pedir que os moradores colocassem o lixo para fora de casa somente no horário da coleta e evitassem jogar detritos nas calçadas.

“É uma forma de educar as crianças e sensibilizar os adultos sobre o assunto. Isso é uma realidade delas porque a escola onde estudam alaga todo verão por causa de bueiros entupidos”, conta. A ideia foi aprovada pela diretora da escola, Ana Lúcia Shinahara. “Eles aprendem muito mais quando colocam na prática o que viram em sala de aula”, diz Ana Lúcia.

“Olha. Se você tomar um sorvete, não joga o papel no chão. Guarda na bolsa e depois separa para reciclar. É só separar o papel do vidro e do plástico. E aí você ajuda a natureza e não deixa nossa rua alagar de tanto lixo que tem espalhado”, explicou a aluna Elen Cristina Ferreira Barbosa, de 10 anos, para uma mulher que esperava o ônibus.
Usando luvas plásticas e carregando cartazes informativos sobre reciclagem, cerca de cem alunos dos 3.º e 4.º anos da Escola Estadual Guerino Raso, no Belenzinho, na zona leste de São Paulo, aproveitaram a tarde de ontem para recolher o lixo jogado nas ruas Serra da Bocaina e Siqueira Bueno, que ficam no entorno da escola.

Os estudantes também plantaram mudas de azaleia nas calçadas e tocaram as campainhas dos vizinhos para dizer “que não é legal espalhar lixo nas calçadas”, como explicou o aluno do 4.º ano B, Thiago Carvalho da Conceição, de 11 anos. “Não estamos brincando. Isso é muito sério”, disse o menino enquanto carregava um saco de cem litros lotado de papel recolhido das calçadas.

A ação, chamada Morador Presente, foi uma iniciativa da presidente do Conselho de Segurança (Conseg) Brás, Mooca e Belenzinho, Wanda Herrero. Cansada de ver as ruas do entorno do Largo Ubirajara alagarem sempre que chove, ela até que pensou em tocar sozinha as campainhas para pedir que os moradores colocassem o lixo para fora de casa somente no horário da coleta e evitassem jogar detritos nas calçadas.

“É uma forma de educar as crianças e sensibilizar os adultos sobre o assunto. Isso é uma realidade delas porque a escola onde estudam alaga todo verão por causa de bueiros entupidos”, conta. A ideia foi aprovada pela diretora da escola, Ana Lúcia Shinahara. “Eles aprendem muito mais quando colocam na prática o que viram em sala de aula”, diz Ana Lúcia.

“Olha. Se você tomar um sorvete, não joga o papel no chão. Guarda na bolsa e depois separa para reciclar. É só separar o papel do vidro e do plástico. E aí você ajuda a natureza e não deixa nossa rua alagar de tanto lixo que tem espalhado”, explicou a aluna Elen Cristina Ferreira Barbosa, de 10 anos, para uma mulher que esperava o ônibus.

fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,alunos-dao-aula-contra-enchente,802392,0.htm

terça-feira, 6 de setembro de 2011

" QUANDO PERCEBER QUE A CORRUPÇÃO É RECOMPENSADA E A HONESTIDADE SE CONVERTE EM AUTOSSACRIFÍCIO, A SOCIEDADE ESTÁ CONDENADA".

Ayn Rand - filósofa russo-americana

SAIBA QUANTO CUSTA SUA EDUCAÇÃO

FONTE: http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/saiba+quanto+custa+a+sua+educacao/n1597127158837.html

Saiba quanto custa a sua educação

Teste contabiliza gastos e investimentos feitos com ensino da pré-escola à faculdade

Marina Morena Costa, iG São Paulo


A educação é um dos principais investimentos das famílias brasileiras. Segundo o economista Alcides Leite, professor da Trevisan Escola de Negócios, a classe média chega a gastar até 25% de seu orçamento familiar com o ensino dos filhos. Com base em um estudo feito pelo Instituto Nacional de Vendas e Trade Marketing (Invent), o iG fez projeções de quanto cada classe social gasta da pré-escola à faculdade com educação.

A pesquisa leva em conta o comportamento das classes sociais brasileiras e seus padrões de gastos com educação dos 6 meses aos 23 anos de idade. Foram considerados dados referentes às mensalidades de escolas particulares, cursos extracurriculares, alimentação escolar, transporte, material didático, livros e revistas. Uma pesquisa de mercado incluiu itens como intercâmbio, cursos de idiomas no exterior e cursinho pré-vestibular.
“A educação é vista pelas classes mais privilegiadas com um dos melhores investimentos”, aponta Adriano Maluf Amui, diretor do Invent e responsável pelo estudo. De acordo com o professor Leite, hoje há consciência da necessidade de ter uma melhor qualificação. “Na medida em que a classe média aumenta de tamanho, famílias que antes mantinham seus filhos no ensino público estão migrando para a rede particular”, destaca. A consequência é um maior comprometimento da renda com o ensino.
Quem estuda na rede pública, não tem gastos diretos com mensalidade escolar – e por isso eles não aparecem no infográfico. Mas o investimento fica por conta do Estado. De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep) a soma dos gastos dos governos federal, estadual e municipal em 2009 dá um custo médio por aluno nos ensino médio e fundamental de R$ 2,9 mil por ano. Já no ensino superior, cada matrícula em uma instituição pública custa em média R$ 15,4 mil anuais.

A análise da Invent foi feita em 2008, com base em pesquisas feitas nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Para chegar aos números atuais, foi aplicada a inflação dos últimos dois anos – Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2009 e 2010 – e usado o valor do dólar de 1º de agosto (R$ 1,56).


CLIQUE E DIVIRTA-SE!

Câmara analisa projeto de lei que pune violência contra o professor

A Câmara dos Deputados analisa o Projeto de Lei 267/11, da deputada Cida Borghetti (PP-PR), que estabelece punições para estudantes que desrespeitarem professores ou violarem regras éticas e de comportamento de instituições de ensino. 

Em caso de descumprimento, o estudante infrator ficará sujeito a suspensão e, na hipótese de reincidência grave, encaminhamento à autoridade judiciária competente. 

A proposta muda o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90) para incluir o respeito aos códigos de ética e de conduta como responsabilidade e dever da criança e do adolescente na condição de estudante.  

Indisciplina
De acordo com a autora, a indisciplina em sala de aula tornou-se algo rotineiro nas escolas brasileiras e o número de casos de violência contra professores aumenta assustadoramente. Ela diz que, além dos episódios de violência física contra os educadores, há casos de agressões verbais, que, em muitos casos, acabam sem punição.

O projeto, que tramita em caráter conclusivo, será analisado pelas comissões de Seguridade Social e Família; de Educação e Cultura; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.

fonte: http://www.blogfalandofrancamente.com/2011/04/camara-analisa-projeto-de-lei-que-pune.html

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Domínio Público - MEC

O portal Domínio Público está disponível, gratuitamente, para acessar obras, fotografias, imagem, som e videos de vários autores e artistas brasileiros e estrangeiros.
Basta acessar!!! E divirta-se!!!
beijos
Danny

quinta-feira, 7 de julho de 2011

QUE FALE SOBRE A LOUCURA A PRÓPRIA DONA LOUCURA

Quem mais apropriada para falar sobre a loucura do que a própria dona Loucura? Ela, que afirma que a natureza, a mãe produtora do gênero humano, dispôs que em coisa alguma faltasse o condimento da loucura e citando os estóicos que são impassíveis a dor e adversidade e que                                                                                                                                                                                                                                                                                                           expõe o ponto de vista destes quando afirmam que o sábio é aquele que vive de acordo com as regras da razão, e louco, ao contrário, é o que se deixa arrastar ao sabor de suas paixões. Contudo, assegura dona Loucura que, com receio de que a vida do homem se tornasse triste e infeliz, lhe foi   aumentado muito mais a dose das paixões   que a da razão, relegando a razão para um estreito cantinho da cabeça, deixando todo o resto do corpo preso das desordens e da confusão.

Há de se indagar: para onde leva o homem essas desordens e confusão ? Diria que quase sempre a um estado de loucura, representada por uma série de males que o homem causa ao homem. 
O que são as guerras,  os assassinatos, as perseguições, a pobreza, a fome,  a infâmia, a desonra, os tormentos, a inveja, as traições, as injúrias, os conflitos, as fraudes senão  atos de loucura?

         Ainda sobre  as calamidades a que está sujeita a vida dos mortais  sou levada até  dona Loucura, que comovida exclamou:  “Santo Deus! O que é afinal a vida humana? Como é miserável, como é sórdido o nascimento?! Como é penosa a educação?! A quantos males está exposta a infância?! A juventude?! Como é grave a velhice?! Como é dura a necessidade da morte?! (?)”.Chegando aos finalmente, fico cá imaginando se razão tinha Martin Luther King quando afirmou: “ Temos de aprender a viver todos como irmãos ou morreremos todos loucos”.

encantodasletras.50webs.com/loucura.htm

 

PENSE NISSO!!!

“Nunca se deve engatinhar quando se tem o impulso de voar”.
Helen Keller (1880-1968), escritora americana cega e surda

terça-feira, 21 de junho de 2011

Leia e delicie.... com Machado de Assis

 
Conto de Escola

Machado de Assis

A Escola era na Rua do Costa, um sobradinho de grade de pau. O ano era de 1840. Naquele dia - uma segunda-feira, do mês de maio - deixei-me estar alguns instantes na Rua da Princesa a ver onde iria brincar a manhã. Hesitava entre o morro de S. Diogo e o Campo de Sant'Ana, que não era então esse parque atual, construção de gentleman, mas um espaço rústico, mais ou menos infinito, alastrado de lavadeiras, capim e burros soltos. Morro ou campo? Tal era o problema. De repente disse comigo que o melhor era a escola. E guiei para a escola. Aqui vai a razão.
Na semana anterior tinha feito dois suetos , e, descoberto o caso, recebi o pagamento das mãos de meu pai, que me deu uma sova de vara de marmeleiro. As sovas de meu pai doíam por muito tempo. Era um velho empregado do Arsenal de Guerra, ríspido e intolerante. Sonhava para mim uma grande posição comercial, e tinha ânsia de me ver com os elementos mercantis, ler, escrever e contar, para me meter de caixeiro. Citava-me nomes de capitalistas que tinham começado ao balcão. Ora, foi a lembrança do último castigo que me levou naquela manhã para o colégio. Não era um menino de virtudes.
Subi a escada com cautela, para não ser ouvido do mestre, e cheguei a tempo; ele entrou na sala três ou quatro minutos depois. Entrou com o andar manso do costume, em chinelas de cordovão, com a jaqueta de brim lavada e desbotada, calça branca e tesa e grande colarinho caído. Chamava-se Policarpo e tinha perto de cinqüenta anos ou mais. Uma vez sentado, extraiu da jaqueta a boceta de rapé e o lenço vermelho, pô-los na gaveta; depois relanceou os olhos pela sala. Os meninos, que se conservaram de pé durante a entrada dele, tornaram a sentar-se. Tudo estava em ordem; começaram os trabalhos.
- Seu Pilar, eu preciso falar com você, disse-me baixinho o filho do mestre.
Chamava-se Raimundo este pequeno, e era mole, aplicado, inteligência tarda.
Raimundo gastava duas horas em reter aquilo que a outros levava apenas trinta ou cinquenta minutos; vencia com o tempo o que não podia fazer logo com o cérebro. Reunia a isso um grande medo ao pai. Era uma criança fina, pálida, cara doente; raramente estava alegre. Entrava na escola depois do pai e retirava-se antes. O mestre era mais severo com ele do que conosco.
- O que é que você quer?
- Logo, respondeu ele com voz trêmula.
Começou a lição de escrita. Custa-me dizer que eu era dos mais adiantados da escola; mas era. Não digo também que era dos mais inteligentes, por um escrúpulo fácil de entender e de excelente efeito no estilo, mas não tenho outra convicção. Note-se que não era pálido nem mofino: tinha boas cores e músculos de ferro. Na lição de escrita, por exemplo, acabava sempre antes de todos, mas deixava-me estar a recortar narizes no papel ou na tábua, ocupação sem nobreza nem espiritualidade, mas em todo caso ingênua. Naquele dia foi a mesma coisa; tão depressa acabei, como entrei a reproduzir o nariz do mestre, dando-lhe cinco ou seis atitudes diferentes, das quais recordo a interrogativa, a admirativa, a dubitativa e a cogitativa. Não lhes punha esses nomes, pobre estudante de primeiras letras que era; mas, instintivamente, dava-lhes essas expressões. Os outros foram acabando; não tive remédio senão acabar também, entregar a escrita, e voltar para o meu lugar.
Com franqueza, estava arrependido de ter vindo. Agora que ficava preso, ardia por andar lá fora, e recapitulava o campo e o morro, pensava nos outros meninos vadios, o Chico Telha, o Américo, o Carlos das Escadinhas, a fina flor do bairro e do gênero humano. Para cúmulo de desespero, vi através das vidraças da escola, no claro azul do céu, por cima do morro do Livramento, um papagaio de papel, alto e largo, preso de uma corda imensa, que bojava no ar, uma cousa soberba. E eu na escola, sentado, pernas unidas, com o livro de leitura e a gramática nos joelhos.
- Fui um bobo em vir, disse eu ao Raimundo.
- Não diga isso, murmurou ele.
Olhei para ele; estava mais pálido. Então lembrou-me outra vez que queria pedir-me alguma cousa, e perguntei-lhe o que era. Raimundo estremeceu de novo,e, rápido, disse-me que esperasse um pouco; era uma coisa particular.
- Seu Pilar... Murmurou ele daí a alguns minutos.
- Que é?
- Você...
- Você quê?
Ele deitou os olhos ao pai, e depois a alguns outros meninos. Um destes, o Curvelo, olhava para ele, desconfiado, e o Raimundo, notando-me essa circunstância, pediu alguns minutos mais de espera. Confesso que começava a arder de curiosidade. Olhei para o Curvelo, e vi que parecia atento; podia ser uma simples curiosidade vaga, natural indiscrição; mas podia ser também alguma cousa entre eles. Esse Curvelo era um pouco levado do diabo. Tinha onze anos, era mais velho que nós.
Que me quereria o Raimundo? Continuei inquieto, remexendo-me muito, falando-lhe baixo, com instância, que me dissesse o que era, que ninguém cuidava dele nem de mim. Ou então, de tarde...
- De tarde, não, interrompeu-me ele; não pode ser de tarde.
- Então agora...
- Papai está olhando.
Na verdade, o mestre fitava-nos. Como era mais severo para o filho, buscava-o muitas vezes com os olhos, para trazê-lo mais aperreado. Mas nós também éramos finos; metemos o nariz no livro, e continuamos a ler. Afinal cansou e tomou as folhas do dia, três ou quatro, que ele lia devagar, mastigando as idéias e as paixões. Não esqueçam que estávamos então no fim da Regência, e que era grande a agitação pública. Policarpo tinha decerto algum partido, mas nunca pude averiguar esse ponto. O pior que ele podia ter, para nós, era a palmatória. E essa lá estava, pendurada do portal da janela, à direita, com os seus cinco olhos do diabo. Era só levantar a mão, despendurá-la e brandi-la, com a força do costume, que não era pouca. E daí, pode ser que alguma vez as paixões políticas dominassem nele a ponto de poupar-nos uma ou outra correção. Naquele dia, ao menos, pareceu-me que lia as folhas com muito interesse; levantava os olhos de quando em quando, ou tomava uma pitada, mas tornava logo aos jornais, e lia a valer.
No fim de algum tempo - dez ou doze minutos - Raimundo meteu a mão no bolso das calças e olhou para mim.
- Sabe o que tenho aqui?
- Não.
- Uma pratinha que mamãe me deu.
- Hoje?
- Não, no outro dia, quando fiz anos...
- Pratinha de verdade?
- De verdade.
Tirou-a vagarosamente, e mostrou-me de longe. Era uma moeda do tempo do rei, cuido que doze vinténs ou dois tostões, não me lembro; mas era uma moeda, e tal moeda que me fez pular o sangue no coração. Raimundo revolveu em mim o olhar pálido; depois perguntou-me se a queria para mim. Respondi-lhe que estava caçoando, mas ele jurou que não.
- Mas então você fica sem ela?
- Mamãe depois me arranja outra. Ela tem muitas que vovô lhe deixou, numa caixinha; algumas são de ouro. Você quer esta?
Minha resposta foi estender-lhe a mão disfarçadamente, depois de olhar para a mesa do mestre. Raimundo recuou a mão dele e deu à boca um gesto amarelo, que queria sorrir. Em seguida propôs-me um negócio, uma troca de serviços; ele me daria a moeda, eu lhe explicaria um ponto da lição de sintaxe. Não conseguira reter nada do livro, e estava com medo do pai. E concluía a proposta esfregando a pratinha nos joelhos...
Tive uma sensação esquisita. Não é que eu possuísse da virtude uma idéia antes própria de homem; não é também que não fosse fácil em empregar uma ou outra mentira de criança. Sabíamos ambos enganar ao mestre. A novidade estava nos termos da proposta, na troca de lição e dinheiro, compra franca, positiva, toma lá, dá cá; tal foi a causa da sensação. Fiquei a olhar para ele, à toa, sem poder dizer nada.
Compreende-se que o ponto da lição era difícil, e que o Raimundo, não o tendo aprendido, recorria a um meio que lhe pareceu útil para escapar ao castigo do pai. Se me tem pedido a coisa por favor, alcançá-la-ia do mesmo modo, como de outras vezes, mas parece que era lembrança das outras vezes, o medo de achar a minha vontade frouxa ou cansada, e não aprender como queria, - e pode ser mesmo que em alguma ocasião lhe tivesse ensinado mal, - parece que tal foi a causa da proposta. O pobre-diabo contava com o favor, - mas queria assegurar-lhe a eficácia, e daí recorreu à moeda que a mãe lhe dera e que ele guardava como relíquia ou brinquedo; pegou dela e veio esfregá-la nos joelhos, à minha vista, como uma tentação... Realmente, era bonita, fina, branca, muito branca; e para mim, que só trazia cobre no bolso, quando trazia alguma cousa, um cobre feio, grosso, azinhavrado...
Não queria recebê-la, e custava-me recusá-la. Olhei para o mestre, que continuava a ler, com tal interesse, que lhe pingava o rapé do nariz. - Ande, tome, dizia-me baixinho o filho. E a pratinha fuzilava-lhe entre os dedos, como se fora diamante... Em verdade, se o mestre não visse nada, que mal havia? E ele não podia ver nada, estava agarrado aos jornais, lendo com fogo, com indignação...
- Tome, tome...
Relancei os olhos pela sala, e dei com os do Curvelo em nós; disse ao Raimundo que esperasse. Pareceu-me que o outro nos observava, então dissimulei; mas daí a pouco deitei-lhe outra vez o olho, e - tanto se ilude a vontade! - não lhe vi mais nada. Então cobrei ânimo.
- Dê cá...
Raimundo deu-me a pratinha, sorrateiramente; eu meti-a na algibeira das calças, com um alvoroço que não posso definir. Cá estava ela comigo, pegadinha à perna. Restava prestar o serviço, ensinar a lição e não me demorei em fazê-lo, nem o fiz mal, ao menos conscientemente; passava-lhe a explicação em um retalho de papel que ele recebeu com cautela e cheio de atenção. Sentia-se que despendia um esforço cinco ou seis vezes maior para aprender um nada; mas contanto que ele escapasse ao castigo, tudo iria bem.
De repente, olhei para o Curvelo e estremeci; tinha os olhos em nós, com um riso que me pareceu mau. Disfarcei; mas daí a pouco, voltando-me outra vez para ele, achei-o do mesmo modo, com o mesmo ar, acrescendo que entrava a remexer-se no banco, impaciente. Sorri para ele e ele não sorriu; ao contrário, franziu a testa, o que lhe deu um aspecto ameaçador. O coração bateu-me muito.
- Precisamos muito cuidado, disse eu ao Raimundo.
- Diga-me isto só, murmurou ele.
Fiz-lhe sinal que se calasse; mas ele instava, e a moeda, cá no bolso, lembrava-me o contrato feito. Ensinei-lhe o que era, disfarçando muito; depois, tornei a olhar para o Curvelo, que me pareceu ainda mais inquieto, e o riso, dantes mau, estava agora pior. Não é preciso dizer que também eu ficara em brasas, ansioso que a aula acabasse; mas nem o relógio andava como das outras vezes, nem o mestre fazia caso da escola; este lia os jornais, artigo por artigo, pontuando-os com exclamações, com gestos de ombros, com uma ou duas pancadinhas na mesa. E lá fora, no céu azul, por cima do morro, o mesmo eterno papagaio, guinando a um lado e outro, como se me chamasse a ir ter com ele. Imaginei-me ali, com os livros e a pedra embaixo da mangueira, e a pratinha no bolso das calças, que eu não daria a ninguém, nem que me serrassem; guardá-la-ia em casa, dizendo a mamãe que a tinha achado na rua. Para que me não fugisse, ia-a apalpando, roçando-lhe os dedos pelo cunho, quase lendo pelo tato a inscrição, com uma grande vontade de espiá-la.
- Oh! Seu Pilar! Bradou o mestre com voz de trovão.
Estremeci como se acordasse de um sonho, e levantei-me às pressas. Dei com o mestre, olhando para mim, cara fechada, jornais dispersos, e ao pé da mesa, em pé, o Curvelo. Pareceu-me adivinhar tudo.
- Venha cá! Bradou o mestre.
Fui e parei diante dele. Ele enterrou-me pela consciência dentro um par de olhos pontudos; depois chamou o filho. Toda a escola tinha parado; ninguém mais lia, ninguém fazia um só movimento. Eu, conquanto não tirasse os olhos do mestre, sentia no ar a curiosidade e o pavor de todos.
- Então o senhor recebe dinheiro para ensinar as lições aos outros? Disse-me o Policarpo.
- Eu...
- Dê cá a moeda que este seu colega lhe deu! Clamou.
Não obedeci logo, mas não pude negar nada. Continuei a tremer muito. Policarpo bradou de novo que lhe desse a moeda, e eu não resisti mais, meti a mão no bolso, vagarosamente, saquei-a e entreguei-lha. Ele examinou-a de um e outro lado, bufando de raiva; depois estendeu o braço e atirou-a à rua. E então disse-nos uma porção de cousas duras, que tanto o filho como eu acabávamos de praticar uma ação feia, indigna, baixa, uma vilania, e para emenda e exemplo íamos ser castigados.
Aqui pegou da palmatória.
- Perdão, seu mestre... Solucei eu.
- Não há perdão! Dê cá a mão! Dê cá! Vamos! Sem vergonha! Dê cá a mão!
- Mas, seu mestre...
- Olhe que é pior!
Estendi-lhe a mão direita, depois a esquerda, e fui recebendo os bolos uns por cima dos outros, até completar doze, que me deixaram as palmas vermelhas e inchadas. Chegou a vez do filho, e foi a mesma cousa; não lhe poupou nada, dois,quatro, oito, doze bolos. Acabou, pregou-nos outro sermão. Chamou-nos sem vergonhas, desaforados, e jurou que se repetíssemos o negócio apanharíamos tal castigo que nos havia de lembrar para todo o sempre. E exclamava: Porcalhões! Tratantes! Faltos de brio!
Eu, por mim, tinha a cara no chão. Não ousava fitar ninguém, sentia todos os olhos em nós. Recolhi-me ao banco, soluçando, fustigado pelos impropérios do mestre. Na sala arquejava o terror; posso dizer que naquele dia ninguém faria igual negócio. Creio que o próprio Curvelo enfiara de medo. Não olhei logo para ele, cá dentro de mim jurava quebrar-lhe a cara, na rua, logo que saíssemos, tão certo como três e dois serem cinco.
Daí a algum tempo olhei para ele; ele também olhava para mim, mas desviou a cara, e penso que empalideceu. Compôs-se e entrou a ler em voz alta; estava com medo. Começou a variar de atitude, agitando-se à toa, coçando os joelhos, o nariz. Pode ser até que se arrependesse de nos ter denunciado; e na verdade, por que denunciar-nos? Em que é que lhe tirávamos alguma coisa?
" Tu me pagas! Tão duro como osso!" dizia eu comigo.
Veio a hora de sair, e saímos; ele foi adiante, apressado, e eu não queria brigar ali mesmo, na Rua do Costa, perto do colégio; havia de ser na Rua larga São Joaquim. Quando, porém, cheguei à esquina, já o não vi; provavelmente escondera-se em algum corredor ou loja; entrei numa botica, espiei em outras casas, perguntei por ele a algumas pessoas, ninguém me deu notícia. De tarde faltou à escola.
Em casa não contei nada, é claro; mas para explicar as mãos inchadas, menti a minha mãe, disse-lhe que não tinha sabido a lição. Dormi nessa noite, mandando ao diabo os dois meninos, tanto o da denúncia como o da moeda. E sonhei com a moeda; sonhei que, ao tornar à escola, no dia seguinte, dera com ela na rua, e a apanhara, sem medo nem escrúpulos...
De manhã, acordei cedo. A idéia de ir procurar a moeda fez-me vestir depressa. O dia estava esplêndido, um dia de maio, sol magnífico, ar brando, sem contar as calças novas que minha mãe me deu, por sinal que eram amarelas. Tudo isso, e a pratinha... Saí de casa, como se fosse trepar ao trono de Jerusalém. Piquei o passo para que ninguém chegasse antes de mim à escola; ainda assim não andei tão depressa que amarrotasse as calças. Não, que elas eram bonitas! Mirava-as, fugia aos encontros, ao lixo da rua...
Na rua encontrei uma companhia do batalhão de fuzileiros, tambor à frente, rufando. Não podia ouvir isto quieto. Os soldados vinham batendo o pé rápido, igual, direita, esquerda, ao som do rufo; vinham, passaram por mim, e foram andando. Eu senti uma comichão nos pés, e tive ímpeto de ir atrás deles. Já lhes disse: o dia estava lindo, e depois o tambor... Olhei para um e outro lado; afinal, não sei como foi, entrei a marchar também ao som do rufo, creio que cantarolando alguma coisa: Rato na casaca... Não fui à escola, acompanhei os fuzileiros, depois enfiei pela Saúde, e acabei a manhã na Praia da Gamboa. Voltei para casa com as calças enxovalhadas, sem pratinha no bolso nem ressentimento na alma. E, contudo, a pratinha era bonita e foram eles, Raimundo e Curvelo, que me deram o primeiro conhecimento, um da corrupção, outro da delação; mas o diabo do tambor...
Conto de Escola - Machado de Assis

Leia para os seus alunos os clássícos!!! Amplie o repertório deles...
Beijos, até mais....
Danny

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Você elogia seus alunos?!

Elogie do jeito certo
Recentemente, um grupo de crianças pequenas passou por um teste muito interessante. Psicólogos propuseram uma tarefa de média dificuldade, que elas executariam, contudo, sem grandes problemas. Todas conseguiram terminar a tarefa depois de certo tempo. Em seguida, foram divididas em dois grupos.
O grupo A foi elogiado quanto à inteligência. “Uau, como você é inteligente!”, “Que esperta você é!”, “Menino, que orgulho de ver o quanto você é genial!”… E outros elogios relacionados à capacidade de cada criança.
O grupo B foi elogiado quanto ao esforço. “Menina, gostei de ver o quanto você se dedicou nesta tarefa!”, “Menino, que legal ter visto seu esforço!”, “Uau, que persistência você mostrou. Tentou, tentou, até conseguir, muito bem!”… E outros elogios relacionados ao trabalho realizado e não à criança em si.
Depois dessa fase, uma nova tarefa de dificuldade equivalente à primeira foi proposta aos dois grupos de crianças. Aqui, elas não seriam obrigadas a cumprir a tarefa, mas podiam escolher se queriam ou não, sem qualquer tipo de conseqüência.
As respostas das crianças surpreenderam. A grande maioria das crianças do grupo A simplesmente recusou a segunda tarefa. As crianças não queriam nem tentar. Por outro lado, quase todas as crianças do grupo B aceitaram tentar. Não recusaram a nova tarefa.
A explicação é simples e nos ajuda a compreender como elogiar nossos filhos e nossos alunos. O ser humano foge de experiências que possam ser desagradáveis. As crianças “inteligentes” não querem o sentimento de frustação de não conseguir realizar uma tarefa, pois isso poderia modificar a imagem que os adultos têm delas. “Se eu não conseguir, eles não vão mais dizer que sou inteligente.” As “esforçadas” não ficam com medo de tentar, pois mesmo que não consigam é o esforço que será elogiado. Sabemos de muitos casos de jovens considerados inteligentes não passarem no vestibular, enquanto aqueles jovens “médios” obtêm a vitória. Os inteligentes confiaram demais em sua capacidade e deixaram de se preparar adequadamente. Os outros sabiam que se não tivessem um excelente preparo não seriam aprovados e, justamente por isso, estudaram mais, resolveram mais exercícios, leram e se aprofundaram melhor em cada uma das disciplinas.
No entanto, isso não é tudo. Além dos conteúdos escolares, nossos filhos precisam aprender valores, princípios e ética. Precisam respeitar as diferenças, lutar contra o preconceito, adquirir hábitos saudáveis e construir amizades sólidas. Não  se consegue nada disso por meio de elogios frágeis, com enfoque apenas no ego de cada um. É preciso que sejam incentivados constantemente a agir assim. Isso se faz com elogios, feedbacks e incentivos ao comportamento esperado.
Nosso filhos precisam ouvir frases como: “Que bom que você o ajudou, você tem um bom coração”, “Parabéns, meu filho, por ter dito a verdade apesar de estar com medo… Você é ético”, “Filha, fiquei orgulhoso de você ter dado atenção àquela menina nova ao invés de tê-la excluído, como algumas de suas colegas o fizeram… Você é solidária”, “Isso mesmo, filho; deixar seu primo brincar com seu videogame foi muito legal, você é um bom amigo”. Elogios desse tipo estão fundamentados em ações reais e o comportamento da criança, que tenderá a repeti-los. Isso não é “tática” paterna, é incentivo real.
Por outro lado, elogiar superficialidades é uma tendência atual.. “Que linda você é, amor”, “Acho você muito esperto, meu filho”, “Como você é charmoso”, “Que cabelo lindo”, “Seus olhos são tão bonitos”. Elogios como esses não estão baseados em fatos, nem em comportamentos ou atitudes. São apenas impressões e interpretações dos adultos. Em breve, crianças como essas estarão fazendo chantagens emocionais, birras, manhas e “charminhos”. Quando adultos, não terão desenvolvido a resistência à frustração, e a fragilidade emocional estará presente.
Homens e mulheres de personalidade forte e saudável são como carvalhos que crescem nas encostas de montanhas. Os ventos não os derrubam, pois cresceram na presença deles. São frondosos, têm copas grandes e o verde de suas folhas mostra vigor, pois se alimentaram da terra fértil.
Que nosso filhos recebam o vento e a terra adubada por nossa postura firme e carinhosa.
Texto de Marcos Meier


Pense nisso!!! Podemos colher bons frutos no tempo certo.
Bjos
Danny